"The World is not a Desktop", de Mark Weiser, é um texto que fala sobre ubiquidade na tecnologia, ou seja, a importância de se investir em inteligências e interfaces invisíveis. O autor, no decorrer de seu texto, cita alguns exemplos de tecnologias que consideramos ser o futuro dos computadores, como agentes virtuais, comandos de voz e realidade virtual. Constantemente representados em filmes e séries futuristas, tais inteligências parecem ser o mais desejado tipo de inovação e a resolução de muitos problemas que temos com as interfaces de hoje. A questão abordada por Weiser é a seguinte: não seria mais vantajoso para nós, usuários de tais tecnologias, não precisarmos lidar com nenhum tipo de interface ao invés de a tratarmos como o centro das atenções?
Eu diria que sim. Na minha visão de mundo, e na de muitos outros, a melhor interface é aquela que, aparentemente, sequer existe. A comparação que o autor faz entre os computadores e a infância, no final do texto, me parece impecável: a infância é algo misterioso, de certa forma, esquecido pelos adultos mas, ainda assim, sempre com eles. É aquilo que os ajudou a ser quem são, que é inconscientemente utilizado no seu dia a dia, sem nenhum esforço, sem nenhuma forma, mas ainda ali.
Um projeto que priorize a invisibilidade da interface, consequentemente na redução quase total da jornada do usuário, pode ser, por exemplo, entrar em um carro. Há algum tempo, a concessionária BMW lançou um aplicativo que permitia que o usuário destravasse seu carro com seu smartphone. A princípio, a ideia pareceu muito boa, visando sempre facilitar a vida do motorista. Entretanto, foi observado que havia muitos passos a serem cumpridos antes que se pudesse atingir o objetivo final; pegar o celular, usar a senha para desbloqueá-lo, fechar quaisquer outros aplicativos que estivessem abertos, abrir o aplicativo do BMW, utilizar a senha do aplicativo, navegar entre as opções e escolher a de abrir a porta, apertar o botão... até o fim, muito tempo e esforço já foram gastos, levando todos a pensar que os quatro passos do jeito tradicional de se abrir um carro (pegar a chave, encaixá-la na fechadura, girar a chave e abrir a porta) seria, no fim das contas, o mais prático. Assim, buscando sempre reduzir a jornada e a interface, chegaram a conclusão que um aplicativo que destravasse as portas por aproximação seria a melhor opção. E assim foi feito: a jornada e interface foram reduzidas, praticamente, a zero. O aplicativo parou de ser o centro das atenções, servindo unicamente para tornar invisível o ato de destravar a porta.
É esse o ponto principal de Mark Weiser em seu texto, e acredito profundamente que essa "não interface" será o futuro. A naturalidade com que uma "não interface" se infiltra na vida das pessoas é a chave para a criação de tecnologias realmente práticas para um futuro mais integrado, tornando, finalmente, o usuário, e não os computadores, o astro principal de duas vidas.
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